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A transparência na sustentabilidade

Provavelmente, se você acompanha o mercado de moda sustentável, já viu muitas marcas e produtores de conteúdo sobre o assunto falando sobre a transparência. De fato, até pouco tempo atrás, para muitas marcas de moda era impensável mostrar aos consumidores o que de fato acontece em seus processos produtivos.

O grande desastre do desabamento do Rana Plaza, que ocorreu em Bangladesh no ano de 2013 e que deu origem ao movimento Fashion Revolution, foi um fato marcante que expôs a falta de transparência de grandes marcas de moda, como H&M e Primark. A tragédia matou e feriu muitos trabalhadores da indústria, e expôs uma situação de exploração que até então era desconhecida pela maior parte dos consumidores.

De lá para cá, muitos esforços conjuntos foram tomados para que as irregularidades fossem melhor detectadas dentro da cadeia de moda, colocando a transparência como um ponto central que que a indústria seja mais ética, justa e sustentável. Afinal, enquanto não se vê o problema, não se pode resolvê-lo. 

Porém, com a pressão crescente dos consumidores e da opinião pública por mais responsabilidade social e sustentabilidade por parte das marcas, muitas tentam acelerar os processos e levam a um entendimento muito raso sobre o que é a real transparência. Numa tentativa de serem vistas como marcas sustentáveis, empresas expõem uma transparência “pela metade”, impedindo que as transformações ocorram de fato.

É comum entrarmos em sites de grandes empresas de moda e encontrarmos uma aba de ‘Transparência’, com relatórios sobre os gastos de energia, emissões de carbono e condições de trabalho de seus escritórios. Tudo isso é maravilhoso e essencial para manter os consumidores informados, mas a transparência precisa ir muito além das fronteiras internas da empresa.

Sabemos que uma marca de moda gera diversos impactos diretos e indiretos, desde a origem da matéria-prima até o transporte usado para a distribuição das peças entre lojas. Por isso, explicitar como se usa energia e água dentro de uma única fábrica ou escritório não é suficiente para entendermos o real impacto de uma marca. 

Além disso, expor apenas aquilo que já está sendo feito de positivo pela sociedade e pelo meio ambiente não é transparência de fato. É preciso expor também as falhas e os pontos que a empresa pretende melhorar e rever nesse caminho – como é o caso da marca Patagônia, que detectou em sua própria produção uma situação de trabalho análogo à escravidão, e ao invés de esconder, divulgou essa informação ao público.

A intenção da marca com isto foi expor que esse é um problema estrutural, que não se resolverá apenas com as ações de uma empresa isolada, afinal, toda a indústria atual se estrutura com trabalhos terceirizados e pulverizados ao redor do mundo, o que dificulta e muito o rastreamento da cadeia. 

Enquanto a transparência for apenas um recorte maquiado da realidade, a indústria da moda não alcançará a sustentabilidade. Aqui no Moda Limpa, sempre defendemos que as marcas exponham aquilo que estão fazendo para gerar menos impactos negativos, mesmo que seja algo pequeno, mas que continuem buscando o aperfeiçoamento contínuo de seus processos. Jogar limpo com o público é isso, afinal, os consumidores esperam, acima de tudo, honestidade das marcas que consomem.

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